A QUESTÃO DA PESQUISA ESCOLAR COMO FATOR DE CONHECIMENTO


Projeto de pesquisa apresentado à disciplina Gestão de Biblioteca Escolar, do curso de Pós-graduação em Biblioteca Escolar do Centro de Ensino Superior Anísio Teixeira.

A QUESTÃO DA PESQUISA ESCOLAR COMO FATOR DE CONHECIMENTO
 
Merigdriani Piffer Deptulsqui
Marcionigméria A. Piffer Deptuslqui


 
INTRODUÇÃO

Segundo Carvalho (2004), “[...] o conhecimento é um dos elementos fundamentais à vida social, resultante do processo de aprendizagem e é considerado como um dos fatores capaz de gerar a superação de desigualdades, de proporcionar a agregação de valor, influir na condição de empregabilidade dos indivíduos”.

Acredita-se que a biblioteca escolar atue no meio educacional, estando inserida no processo de ensino/aprendizagem e do conhecimento, envolvendo produtos e serviços que objetivem disponibilizar informações úteis para atender a necessidade dos seus usuários/educando objetivando assim seus anseios e desejos, prestando serviços de qualidade para conquistar a clientela e adotando uma política de garantia do produto oferecido.

Devemos, ainda, focar o comportamento desses usuários diante do processo de pesquisa, firmando um compromisso com a eficiência e eficácia no atendimento.

Não se trata apenas de disponibilizar a informação sem tratá-la, mas agregar-lhe valor, o que é preponderante para o desenvolvimento sócio-cultural de uma sociedade educacional.

BIBLIOTECA ESCOLAR: FUNÇÕES E OBJETIVOS

A biblioteca escolar é uma necessidade, pois não constitui uma entidade independente, mas um complemento da escola. Se a escola inicia o aluno na instrução, a biblioteca a complementa. Sua função é a de agente educacional, proporcionando enriquecimento da cultura do aluno nos diferentes campos, oportunidade para o seu desenvolvimento social e intelectual e horas recreativas nos vários tipos de materiais existentes na biblioteca.

São também finalidades da biblioteca escolar apoiar a toda e quaisquer programas educativos. Para atender às exigências desses programas educativos, a biblioteca escolar deverá fornecer toda espécie de tipo de materiais essenciais à obtenção dos objetivos dos currículos, satisfazendo ao mesmo tempo aos interesses, necessidades e aptidões dos próprios alunos e professores.

Embora tão marginalizada de nosso sistema educacional, a biblioteca escolar, tem funções fundamentais a desempenhar, sendo a função educativa e a cultural.

Na função educativa, temos o desenvolvimento das habilidades de estudo independente do aluno. Ela age como instrumento de auto-educação, motivando a busca do conhecimento, incrementando o gosto pela leitura e ainda auxiliando na formação de hábitos e atitudes de manuseio, consulta e utilização do livro e da informação.

Em sua função cultural, a biblioteca de uma escola torna-se complemento da educação formal, ao oferecer múltiplas possibilidades de leitura e, com isso, levar os alunos a ampliar seus conhecimentos e suas idéias acerca do mundo. Pode contribuir para a formação de uma atitude positiva, prazerosa frente à leitura e, em certa medida, participar das ações da comunidade escolar, servindo-lhes de suporte.

Podemos acrescentar, ainda, outras funções da biblioteca que estariam implícitos também em seus objetivos como instituição: Cooperar com o currículo da escola no atendimento às necessidades dos alunos, dos professores e dos demais elementos da comunidade escolar; Incentivar os educandos a pensar de forma crítica, reflexiva, analítica e criadora, orientados por equipes inter-relacionadas (educadores + bibliotecários); Promover a interação professor-bibliotecário-aluno, facilitando o processo ensino-aprendizagem; Desenvolver nos alunos competências e hábitos de trabalho baseados na consulta, tratamento e produção de informação, tais como: selecionar, analisar, criticar e utilizar documentos.

CONHECENDO NOSSO ESPAÇO DE PESQUISA

As experiências adquiridas ao logo do tempo na área educacional nos levam a pensar como podemos estar inseridos em uma comunidade que se fecha para a disseminação coletiva do aprendizado e do conhecimento.

Tentamos mostrar o lado bom da biblioteca, mas o tempo todo somos vistos como apêndice da escola ou como “depósito de alunos, de livros, jornais e revistas velhas” ou salas de castigos. Será que um dia faremos parte da comunidade educacional? Será que seremos respeitados como profissionais capazes de transmitir ao educando o conhecimento?
Nesse contexto, narramos os fatos ocorridos em três bibliotecas, sendo duas nas EMEFs da rede municipal de Vitória e uma na Biblioteca Móvel do município de Serra.

A EMEF Neusa Nunes Gonçalves, escola de ensino fundamental localizada no bairro Nova Palestina (São Pedro V), atende cerca de 1500 alunos por ano, sendo nos turnos matutino, vespertino e noturno.

A Biblioteca “Fonte do Saber” foi criada através do Projeto Revitalização dos Espaços Escolares, implantado em 1997 pela Secretaria de Educação do município, tendo como proposta a possibilidade de tornar o ambiente escolar mais prazeroso, e ainda, sanar os anseios dos alunos e professores. Atende diariamente o corpo docente, administrativo e a comunidade local.

Nos últimos dez anos as bibliotecas dessas unidades escolares do município de Vitória vêm crescendo e demonstrando sua importância nesse cenário escolar.

Na EMEF Neusa Nunes Gonçalves, a biblioteca “Fonte de Saber”, pode dizer, começou a crescer dentro da unidade escolar. Os alunos estão valorizando os serviços ali desenvolvidos, correspondendo com carinho e agradecimentos a cada serviço prestado.

A biblioteca consta com a deficiência de espaço físico e acervo. Em Fevereiro de 2003 constava no acervo, segundo inventário, 9.417 obras, sendo este total modificado a cada ano devido à falta de controle do empréstimo.

A EMEF Tancredo de Almeida Neves funciona somente nos turnos matutino e vespertino, atendendo aproximadamente 1500 alunos, anualmente. Está localizado no bairro São Pedro III.

A biblioteca do TAN ainda não possui denominação e foi criada nos moldes da EMEF Neuza Nunes Gonçalves. Ela atende a toda a comunidade escolar, bem como algumas pessoas das redondezas que a procuram para fazer pesquisas.

A biblioteca é mais procurada por alunos de 1ª a 4ª séries para empréstimos de livros de literatura infantil. Os alunos de 5ª a 8ª séries vêm mais à Unidade de Informação para pesquisarem os conteúdos passados pelos seus professores.
Quando foi construída, cerca de dez anos atrás, a biblioteca possuía um espaço amplo, que comportava com tranqüilidade todo o seu acervo. Atualmente ela perdeu ¼ do seu espaço físico para que fosse feita uma videoteca, prejudicando o seu acervo que agora fica restrito a um pequeno espaço. O seu acesso, que antes era feito por dentro da escola, foi modificado, sendo que o único jeito de se chegar até a biblioteca é passando por trás da escola. Isto comprometeu muito a visita dos alunos à Unidade de Informação, pois agora é necessário que eles aumentem o trajeto para chegar até ela.

Ou seja, antes a biblioteca fazia parte do interior da escola (assim como as salas de aula e demais dependências) e agora ela fica do lado de fora, totalmente isolada do prédio escolar.
A Biblioteca Móvel destina-se a orientar, organizar e implantar os serviços de Biblioteca-móvel, em diversos bairros do município, como uma solução para a falta de bibliotecas nas comunidades, beneficiando inclusive o usuário da zona rural.

O carro Biblioteca-móvel consiste na adaptação de um ônibus à biblioteca, sofrendo modificações adequadas à sua nova função. Além de livros, estão disponíveis periódicos e outros materiais, que sejam fáceis de transportar, adequados a clientela que atende.

A Biblioteca Móvel é coordenada pelo Departamento de Cultura – SETUR, e o acompanhamento são realizados pela Biblioteca Pública Municipal “Belmiro Geraldo Castello”, mantido pela Prefeitura Municipal de Serra.

O objetivo da mesma consiste em promover o desenvolvimento do hábito de leitura, apoiar e complementar a ação educativa da escola, oferecer oportunidades de enriquecimento cultural, oferecer oficinas para crianças e adolescentes, promover atividades esportivas e culturais, bem como, promover intercambio entre bibliotecas comunitárias e escolares.

Os postos de leitura acontecem em escolas, igrejas, centros comerciais e comunitários, praças, balneários e outros locais, quando solicitados.

O acervo inclui obras de literatura infantil, infanto-juvenil e adulto, livros didáticos, religiosos, ilustrações, bibliografias, jornais e revistas, bem como, enciclopédias, dicionários, almanaques, Atlas e artigos para realização de oficinas, como: Hora do conto, Teatro, Olimpíada de leitura, Literatura de cordel, Arte na biblioteca, Palestras e outras. Conta também com aparelho de TV, DVD e vídeo cassete para exibição de filmes.

PESQUISA ESCOLAR: UMA QUESTAO PARA RESOLVER

A escola, o local onde se poderiam criar novos leitores inibe tendências da leitura e da formação de pensamentos inovadores, entre várias razões, devido ao caráter impositivo e cerceador que confere a atividade da pesquisa escolar.

A iniciação a educação cientifica é o caminho pelo qual o educando construirá seu próprio conhecimento, sendo ainda, uma excelente estratégia de aprendizagem.

Para atingir tais atributos, faz-se necessário que a escola utilize métodos que estejam voltados para a integração e dinamização do processo de ensino-aprendizagem, um desses métodos é a pesquisa escolar.

Segundo Foucambert (1993, p.48), “[...] num período de invenção de soluções, a formação não pode ser separada da pesquisa”. É preciso uma metodologia de ensino que forneça oportunidades adequadas para que o aluno sinta-se motivado a desenvolver em si as qualidades de curiosidade, objetividade, precisão, dúvida e um pensamento crítico. Fazendo com que o aluno exerça habilidade de raciocinar, de interpretar e sintetizar as idéias fundamentais do texto.

Em nossas escolas, como em quase todas, o que se tem constatado é que, na maioria das vezes as pesquisas nada acrescentam ao processo ensino-aprendizagem. Nossos professores não sabem, na verdade, como aplicá-las. O professor não ensina o sentido verdadeiro da pesquisa, as aulas se restringem o repasse de conhecimentos, que os alunos escutam e copiam.

Os alunos, por falta de orientação nas pesquisas, acabam fazendo-a mecanicamente e às pressas. Essa atividade de pesquisa não passa de uma ação simples em ir à biblioteca, procurar um livro e copiar alguma coisa relacionada ao assunto dado só para garantir uma nota.

Fica demonstrado a verdadeira falta de prática e valor a pesquisa escolar. Ela deveria ser vista como uma pratica incentivadora que auxilia o estudante na busca de resposta para indagações pessoais e como forma de ampliação do conhecimento e da formação de opinião própria, definindo de certa forma o seu espaço na sociedade.

Como experiência, nesses poucos meses na EMEF, podemos constatar a pesquisa/cópia indiscriminada dos assuntos pedidos em sala de aula. O educando chega à biblioteca com o título e a quantidade de páginas (laudas) estipuladas pelo professor. Observando que a quantidade pedida deve ser seguida à risca, caso contrário, a nota é diminuída em função do não cumprimento da mesma. O professor valoriza o número de páginas, beleza de capa e às vezes ilustrações e números de referências bibliográficas.

A avaliação da pesquisa pelos professores, segundo o educando, é feita com um simples visto. O professor reforça com essa ação a cópia indiscriminada dos textos. Encontramos o absurdo de ver as cópias sendo produzidas às pressas, sem nenhum capricho em escrever, com folhas amassadas e parágrafos repetidos.

Segundo Vale (1990, p. 31) muitas vezes o aluno “[...] limita-se a copiar assepticamente. Ou ainda, com a habilidade adquirida com a pratica, passará a substituir uma ou outra palavra por sinônimos ou a copiar um parágrafo e pular dois”.

Muitas são as falhas observadas em nossas escolas. Nas EMEFs do município de Vitória, por exemplo, os professores, não generalizando, não transmitem as orientações adequadas como delimitar o tema, estabelecer um roteiro com os itens a serem pesquisados, verificar se a biblioteca possui acervo bibliográfico suficiente para atender as pesquisas solicitadas. Os professores pedem-na aos alunos sem antes avisar ao bibliotecário o assunto a ser pesquisado para que o profissional possa preparar o material. Na maioria das vezes, o aluno chega à biblioteca e não sabe dizer sobre o quê deverá pesquisar e não tem nenhuma anotação no caderno. Cabe ao bibliotecário fazer uma sondagem junto ao aluno ou procurar o professor para saber o conteúdo da pesquisa. Lembrando que nas reuniões gerais, o bibliotecário pede ao docente que o avise quando for pedir uma pesquisa. No entanto, seu pedido sempre é ignorado.

Segundo Abreu (2003, p. 25), precisamos reconhecer que “[...] a pesquisa escolar é um processo complexo, que exige do aluno habilidades que precisam estar previamente desenvolvidas, para que ocorra em toda sua riqueza”. O educando precisar estar familiarizado com os recursos que a biblioteca oferece para suas pesquisas, com a localização dos materiais e os meios para recuperar as informações necessárias, como catálogos, internet e periódicos. O educando e o professor deve estar consciente que existem outros suportes de informação, não ficando bitolados somente em livros didáticos.

Na Biblioteca Móvel, a experiência e a realidade é outra. O atendimento é realizado por uma bibliotecária, uma estagiária e uma funcionária da prefeitura. Enquanto estagiária percebi o interesse de crianças por ouvir histórias, assistir a mesma logo após e expressar através de oficinas de desenho, pintura ou poesias, a própria versão. Também observei adolescentes na busca por romances (meninas) e ação (meninos). Estes chegavam à biblioteca para realizarem pesquisas escolares e assim que terminavam se entregava à leitura pessoal.
Muitas vezes, o professor acompanhava os mesmos e sugeriam leitura que não agradava, e assim cada um lia o que interessava, não se importando com o que o professor sugeria.

Na experiência vivenciada na Biblioteca Móvel, constatei a busca por leitura, como diversão, distração, como fuga de assuntos pedidos em sala de aula. È interessante saber que nossas crianças e adolescentes, mesmo que poucos, considerando o número destes, buscam por conhecimento/distração em leitura.

Abreu (2003, p. 27) destaca a importância do educando saber “[...] consultar diferentes fontes de informação [...] precisa ser capaz de localizar e interpretar essa informação, usando mais de uma fonte, dominando técnicas para esquematizar, resumir e parafrasear”.

Cabe nesse contexto o professor passar aos alunos o ensinamento de um bom projeto de pesquisa. Familiarizar o educando com a estrutura do trabalho, citação e a normalização das referências bibliográficas, que poderão também ser assessoradas pelo bibliotecário.

Ainda, segundo Mayrink (apud Oliveira, Moreno, Cruz) a biblioteca escolar deve ser “[...] um instrumento educador, um centro atuante de aprendizagem onde alunos e educadores [...] encontrarão meios de ampliar seus conhecimentos e desenvolver aptidões de leitura e investigações”.

E o bibliotecário será o “agente mediador”, com atribuições administrativas, técnicas e educativas, participando do processo de melhoria da qualidade do ensino.

REFERÊNCIAS

A BIBLIOTECA escolar: temas para uma prática pedagógica. Belo Horizonte: Autentica, 2003.

CARVALHO, I. C. L. A socialização do conhecimento no espaço das bibliotecas universitárias. Niterói: Intertexto, 2004.

VALE, Maria Irene Pereira. A pesquisa no banco dos réus. Caderno AMAE: Biblioteca na escola. Belo Horizonte: Fundação AMAE, 1997.

OLIVEIRA, Adriana Aparecida de. Mini-curso: Organizando e Ativando a Biblioteca Escolar: desafios e propostas para a escola contemporânea. In: Simpósio de Formação de Professores de Juiz de Fora, 3., 2005, Juiz de Fora.

OLIVEIRA, Sônia Maria Marques de; MORENO, Nádina Aparecida; CRUZ, Vilma Aparecida Gimenes da. Diagnóstico da pesquisa escolar, no ensino de 5ª a 8ª série do 1º grau, nas escolas de Londrina - Paraná. Inf.Inf., Londrina, v. 4, n. 1, p. 37-50, jan./jun. 1999.

FOUCAMBERT, Jean. O que a escola precisa saber (e fazer) para formar leitores. Nova Escola, São Paulo, v. 8, n. 65, p. 46-51, abr. 1993.


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