Há
muitos anos ministro (ou ministrava) uma disciplina oferecida no
primeiro semestre do curso de Biblioteconomia: Fundamentos da Ciência da
Informação e da Biblioteconomia. Invariavelmente, boa parte dos alunos
desconhecia a área e, como seus colegas, amigos e parentes, tinha
dificuldade até mesmo para pronunciar o nome do curso. É mais do que
conhecida a recorrente frase apresentada em sala pelos ingressantes,
referindo-se à surpresa dos que lhes perguntam que curso estão fazendo:
“Biblio... quê?”.
Alguns
escolhem o curso por conhecerem bibliotecários ou por terem lido algo
sobre a profissão. Em ambos os casos, também possuem uma visão restrita
do fazer do bibliotecário. Há os que optaram pela profissão por gostarem
de ler (um número muito significativo dos ingressantes), outros porque a
concorrência no vestibular era menor, ainda outros porque leram algo
sobre o curso, tanto em jornais como em manuais veiculados pelos
organizadores de vestibular. De qualquer forma, a maioria inicia os
estudos com pouco ou nenhum conhecimento das atividades, atribuições,
trabalhos, necessidades, competências etc. do profissional.
Quando
se encontram com amigos, mesmo depois de alguns semestres cursados, a
maioria dos alunos sempre têm dificuldades para explicar, sucintamente, o
que faz o bibliotecário. Titubeiam, gaguejam frente a perguntas do
tipo: “O que você vai fazer depois de formado? Vai trabalhar aonde?
Quais serão suas tarefas? É preciso 4 anos de estudo para fazer isso?
Afinal, o que faz um bibliotecário?”.
Pretendia,
como professor da disciplina, que ao final do semestre os alunos
pudessem responder a essa pergunta. No início das aulas eu apresentava
uma síntese do que entendo ser o fazer do bibliotecário, mesmo que o
entendimento da amplitude desse fazer não ficasse tão claro. Esperava
que durante o semestre, com as discussões, leituras etc., os alunos
pudessem terminar a disciplina com uma ideia mais apropriada sobre o
tema.
Toda
tentativa de síntese é sempre simplificadora, mas, mesmo correndo esse
risco, vou apresentar o que entendo ser o fazer do bibliotecário:
O Bibliotecário é o profissional que medeia a necessidade informacional e as informações que satisfaçam essa necessidade.
Muitas
outras ações estão embutidas, implícitas nessa síntese. A necessidade
informacional de um usuário ou de um conjunto de usuários deve ser
conhecida ou, ao menos, procurada. As informações que satisfazem uma
necessidade informacional estão espalhadas, perdidas no universo
informacional. É preciso organizá-las, armazená-las, prepará-las para
que possam ser recuperadas. É voz corrente na área que muita informação é
não-informação, que informações não organizadas são não-informações. O
espaço onde ocorre a mediação não precisa ser, necessariamente, físico.
Hoje, discutimos como atingir o usuário que não frequenta os espaços
físicos da biblioteca, do centro cultural, dos equipamentos
informacionais. Como atingir o aluno que faz suas pesquisas escolares
sem utilizar os espaços da biblioteca, pesquisando apenas em sites,
blogs, googles e outros espaços virtuais?
A
mediação não ocorre apenas no “atendimento” ao usuário, no Serviço de
Referência e Informação. Ela está presente em todas as ações do
bibliotecário. Nas relações que exigem e pedem a presença do usuário,
fisicamente ou não, estamos no âmbito da Mediação Explícita. Já nas
ações em que essa presença não é obrigatória, como nos fazeres relativos
ao armazenamento e organização, estamos no âmbito da Mediação
Implícita.
Importante
lembrar e deixar claro: a mediação não é um momento, mas um processo.
Ela envolve não só o usuário, o bibliotecário, como também o “produtor”
da informação (ou da protoinformação, como prefiro chamar), os suportes
com os quais o bibliotecário lida, o equipamento informacional (físico
ou não), o momento em que todo o processo acontece (não um momento
determinado) e a informação. Nenhum dos “personagens” elencados é
neutro, isento, imparcial. Pelo contrário, todos interferem, pouco ou
muito, na apropriação da informação.
Claro
que este não é um tema para ser discutido em um espaço curto, mas deve
ser constantemente apresentado, pois, acredito, os fazeres do
bibliotecário, assim como os de qualquer profissional, se modificam, se
transformam sempre, atendendo as mudanças e transformações da sociedade.
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