Quando a região da Grande São Pedro começou a ser ocupada pelos migrantes que vieram em busca de trabalho, por volta da década de 70 a igreja prestava auxílio às famílias e dividiu a região entre suas Comunidades de base que foram sendo denominadas com nomes religiosos.
Ao final da década de 1970 e início da década de 1980 cerca de 90 famílias já ocupavam um morro em frente ao bairro São Pedro, fruto da invasão de uma propriedade particular. Neste período,para eliminar os constantes conflitos entre os invasores e o proprietário, e visando assentar essas famílias, o prefeito Carlito von Schilgen libera, em 22 de dezembro de 1980, através do PROMORAR, uma área de 150.000mイ para construção de habitações populares. Essa medida desencadeou a ocupação de uma área de manguezal adjacente à já consolidada, pois a área prevista para assentarem 90 famílias recebeu 300 outras que vieram em busca de moradia. Estas últimas, não encontrando terra para assentamento, iniciaram nova ocupação em manguezal, correspondendo atualmente aos bairros Santo André, São José e Redenção(São Pedro III) e Conquista (São Pedro IV).
A área transforma-se em grande depósito de lixo urbano a céu aberto e passa a atrair ainda mais pessoas em busca de moradia. Esse processo de migração para a região ocorre de forma muito acelerada, uma vez que a atração não era tão somente por moradia, mas por fonte de renda nas toneladas de lixo despejadas por dia em São Pedro III. Segundo relatório da Prefeitura Municipal de Vitória já em 1983, há uma saturação populacional nos bairros São Pedro III e IV. A paisagem se altera profundamente,sendo o verde da vegetação de manguezal substituído pelas cores dos barracos sobre as palafitas e o lixo. A precária condição de vida desse assentamento humano torna-se foco principal da sociedade salientada pela repercussão do vídeo-denúncia “Lugar de Toda Pobreza”, produzido pelo jornalista e cineasta Amylton de Almeida.
Dessas invasões surgem os bairros Nova Palestina e Resistência (São Pedro V e VI, respectivamente), o que contribui para um aumento das transformações paisagísticas e físicas que a porção noroeste da cidade sofreu com as invasões e posteriores aterros, tornando-se inclusive a Ilha das Caieiras parte da nova porção continental.
Em 1989, no governo de Vitor Buaiz, a prefeitura adota a Política de Inversão de Prioridades, segundo relatório da Prefeitura Municipal de Vitória de 1992, com a finalidade de oferecer melhores condições de vida à população e garantir a preservação do manguezal. Conforme indica esse relatório, iniciou-se o processo de recuperação e preservação do manguezal, urbanizando as áreas, que segundo diagnóstico da própria Prefeitura, não dispunham mais de capacidade de auto-recuperação.
Destaca-se que esses relatórios são as primeiras fontes com informações que caracterizam preocupação com a degradação ambiental que as ocupações desencadearam. A partir desse momento os aterros já estavam efetivados, caracterizando a área como uma expansão da capital. Contudo, somente o aterro não garantiria qualidade de vida aquela população, tendo sido necessários elevados investimentos públicos de infra-estrutura na qualificação espacial da área surgida em meio ao mangue entre as décadas de 70 e 90.
Nesse mesmo período é implantado o Projeto São Pedro: Desenvolvimento Urbano Integrado e Preservação do Manguezal em Vitória, caracterizado por três eixos norteadores que englobam: 1- a conscientização dos moradores para preservação do mangue, 2- a participação das comunidades na implantação dos critérios para uso e ocupação do solo na urbanização das áreas, incluindo ainda 3- melhorias habitacionais para as famílias assentadas. Como medidas para melhoria da qualidade de vida destaca-se a conclusão, em 1990, da Usina de Lixo e a organização dos catadores em sindicatos de classe, conforme indica o Relatório da Prefeitura de 1996.
Fonte: Diagonal Urbana, Projeto Terra,SEDEC / DIT / GEO
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